A Comunidade Católica Apostólica Romana, da Paróquia Imaculada Conceição de Diadema, faz saber:
Hoje, dia 22 de setembro, lembramos dos anos de 1983, quando a truculência da polícia nos fazia sentir-nos impotentes.
Em nome da segurança nacional, fazia-nos calar, ainda que, à força. Enfrentávamos tempos difíceis onde não se podia contestar nenhuma das iniciativas daqueles que se sentiam no direito de qualquer ação, ainda que nenhum dos direitos humanos fosse respeitado.
Pelas onze horas e quinze minutos, fomos informados pelos funcionários da nossa Igreja Matriz, que as escadarias da nossa Igreja estavam totalmente tomadas por manifestantes da CUT que protestavam contra o governo Temer em favor da presidente afastada Dilma Russeff. Não entramos no mérito da questão, pois, em 1983 lutamos muito em favor do direito de manifestarmos em contrários ao governo da época.
O que nos deixou perplexo foi a maneira como isso foi feito. Ninguém nos comunicou da intenção de tal manifestação, nem tão pouco, sobre a ocupação das escadarias que compõe a área do templo. Trata-se de um lugar de acesso às pessoas que entram e saem da Igreja, sobretudo, às quintas-feiras, quando temos adoração do Santíssimo Sacramento das oito às dezoito horas. Uma prática religiosa assegurada por lei, e que, além do direito de realizarmos a adoração, estamos fazendo em um lugar privado, nosso. Nossa adoração não incomoda e nem atrapalha ninguém.
Procuramos os responsáveis para um diálogo e não conseguimos ninguém que pudesse responder em nome dos manifestantes. Solicitamos a palavra aos que utilizavam os microfones, mas, fomos totalmente ignorados. Quando insistimos em falar com alguém, obtivemos as respostas como: a praça é pública, a Igreja é do povo, o Papa Francisco nos autorizou. Aqui todos são responsáveis, não existe ninguém que possa responder…
A maneira como responderam deixaram claro um pré-conceito e prepotência. Tal postura dá-nos o direito de questionarmos: somos culpados da Sra. Dilma ter sido afastada? Somos culpados do Partido dos Trabalhadores ter escolhido o Senhor Temer para vice? Fomos nós quem, no parlamento nacional, decidimos a favor da cassação da Sra. Dilma? Porque o PT não governa mais, a CUT sente-se no direito de violar o direito constitucional da propriedade privada? De usar de truculência com aqueles que reclamam os seus direitos? Que democracia está sendo apregoada se não existe diálogo, respeito e nem mesmo educação?
Qual a diferença dessa prática com aquela de 1983? Ou a democracia vale somente enquanto os interesses forem a favor CUT? Francamente, tais práticas vão alimentando a ojeriza contra a própria CUT, pois, se a Igreja é do povo, é preciso lembrar que nem todos que compõem o povo aprovam a CUT, e por isso, a Igreja não pode autorizar tal iniciativa. O Papa Francisco fala de abrirmos as portas para o povo e não para entidades que apoiam um partido. As escadarias da Igreja não são públicas, existem grades demarcando o público do privado.
Lembramos do saudoso Paulo Freire que dizia: “o pior opressor está dentro do oprimido, pois, em nome dos seus anseios, acaba tomando, como medida, a prática do próprio opressor”. É o que constatamos nas pessoas despreparadas com quem falamos.
Foi-nos solicitado, por aqueles que não aprovaram a atitude da CUT de abrirmos um processo exigindo indenização pela violação dos nossos direitos. Achamos melhor não fazermos, ganharíamos a causa com certeza, mas, a indenização recairia sobre os próprios trabalhadores a quem somos solidários e respeitamos muito, e não sobre a direção dessa entidade.
Tal manifesto pretende deixar claro que não apoiamos nenhuma forma de ditadura, ainda que seja do proletariado. Não apoiamos a imposição de idéias. Não apoiamos a violação dos direitos constitucionais. AINDA QUE A CAUSA POSSA VIR A SER NOBRE, NÃO APOIAMOS OS MEIOS ESCUSOS UTILIZADOS PARA ALCANÇÁ-LOS.
Assim, a partir de hoje, até o final das eleições, vamos permanecer com os portões da entrada principal da Igreja fechados, exceto nos horários de missa. A entrada para o templo será pela lateral da Igreja, pela Rua Manoel da Nóbrega.
Agradecemos a compreensão de todos!
Diadema, 22 de setembro de 2016.
Pe. José Pedro Teixeira de Jesus
Pároco